Ainda nem vi a reportagem de ontem na SIC sobre as cesarianas
e já estou irritada. Claro que também há a questão do Jesus e do Sporting e uma
pessoa só tem determinado limite para aturar disparates, mas isso será assunto
para mais tarde.
Quando fui mãe descobri todo um mundo que desconhecia. Estudei
até aos 15 anos em colégios só de raparigas por isso era uma espécie que conhecia
bem. Fiquei surpreendida ao descobrir como as relações entre as mulheres mudam
e se estreitam quando se é mãe. Os grupos nas redes sociais são prova disso. Qualquer
dúvida que se tenha, por mais justificável ou mesmo parva que seja, há trinta
mães a tentar ajudar. Quando se é mãe, é-se mãe. E isso coloca-nos em posição
de igualdade. Uma mãe é igual aqui como noutra parte qualquer do mundo. É igual
quer esteja desempregada, tenha um trabalho aborrecido ou um emprego cheio de
pinta. É igual quer use esta ou aquela marca. Nada disso importa quando os
sentimentos e as preocupações são os mesmos. As mães entendem-se.
Ups, não. Depois descobri outro lado. O lado das mães que
sabem mais que as outras e que não hesitam em julgar e condenar quem pensa ou
faz diferente. Descobri um torcer de nariz em reprovação que nunca tinha visto.
Porque às vezes não há palavras, mas há aquele nariz de lado em jeito de
condenação e desprezo. Fez cesariana? Não amamentou? Pronto, vai para o livro
das excluídas. Estas não são boas mães, não podem fazer parte da aliança. Mãe
que é mãe tem que sofrer, tem que ter histórias horríveis de partos dolorosos e
demorados, tem que amamentar os filhos em exclusivo pelo menos até aos 6 meses e
dizer que adorou e foi a melhor experiência do mundo. Porque ser mãe é isto, é
ter dores e sofrer e passar dificuldades, e quem tem histórias felizes ou faz
as coisas um bocadinho ao lado não pode ser boa mãe.
É impressão minha ou estamos com os conceitos e os valores trocados? Se calhar já está na altura de pararmos com isto, não?
Pela primeira vez, escrevo um post no Guia das Mulheres Para Totós, em que as
totós são mesmo as mulheres. E custa-me, mas são. Somos todas mães, queremos o
melhor para os nossos filhos. É isso que nos torna iguais. Os comentários que
oiço e leio deixam-me totalmente incrédula. A sério que uma mãe que fez uma
cesariana (seja por que motivo for) é inferior a outra que passou por um parto
natural? A sério que não devia nunca ser
dada à mulher, devidamente informada, a hipótese de escolher o tipo de parto
que pensa ser melhor para ela? E como é que as opções de uma mãe conseguem irritar assim tanto outra mãe? Somos todas Maria Capazes, somos isto e somos
aquilo. Mas também somos as primeiras a apontar o dedo. E digam-me lá, mães
perfeitas que tudo sabem, ensinam ou não aos vossos filhos que apontar é feio?