Hoje entrei numa escola para entregar uma coisa a uma amiga que é professora e saí de lá com um nervoso miudinho terrível na barriga. A verdade é que não me posso queixar muito. A minha vida escolar até correu bem. Mas só até ao final do primeiro dia de aulas da 1ª classe. A partir daí foi sempre a descer. Recordo facilmente o entusiasmo do primeiro dia, depois de me terem dito que ia aprender a ler, oh e eu queria tanto aprender a ler! Claro que ninguém me explicou que isso não aconteceria num só dia e que teria que lá voltar durante anos e anos. Foi dos maiores choques da minha vida. Lembro-me perfeitamente de estar sentada numa cadeira perto da janela e de olhar para o pátio enquanto contava pelos dedos quantos anos daquilo tinha pela frente. Traumatizante. A 1ª classe correu muito mal, meteu psicólogo e tudo pelo meio, que eu, com apenas 6 aninhos, achei logo que aquilo era tudo uma grande perda de tempo. Finalmente um ano depois, com a grande maturidade dos 7, comecei a desenvolver a atitude que hoje considero o segredo de uma vida mentalmente sã, o I just don’t care, com o apoio de uma mãe fenomenal que me deixava fazer o que bem me apetecesse desde que as notas fossem boas. Que não sei muito bem como, mas eram. E lá andámos nisto durante muito tempo. Tive o privilégio de conhecer pedagogias e ambientes bastante distintos, desde os colégios particulares católicos com direito a saias de pregas, meias até ao joelho e avé-marias todas as manhãs, ao liceu público com a rebaldaria total. E em todas as situações fiz amigos para a vida e os únicos casos de bullying a que assisti envolveram professores a dar reguadas nos alunos, coisa que na altura era comum e da qual nenhum pai se queixava em prime time no telejornal. Quem se portava mal apanhava. Eram as regras e todos estavam de acordo. Foram anos estranhos ali na incerteza entre o estar a aprender e o perder tempo. Sim, sim, a frequência escolar ajudou-me a desenvolver capacidades de raciocínio, competências sociais, rebéu, béu, béu, pardais ao ninho. Mas não me venham cá com coisas. Em termos de vida prática, entre o infantário e o 12º ano não aprendi nada de útil que não pudesse ser condensado em 3 ou 5 anos. E assusta-me em quase 30 anos de vida ter passado a maior parte sentada numa carteira de escola. Depois de hoje ter passeado pelos corredores, perscrutado as salas, recordado o cheiro e o som dos passos no estrado do quadro, acabei por sair da escola com uma admiração ainda maior pela amiga de quem já gostava muito. Porque eu, por mais que me pagassem (que ainda por cima nem isso o fazem bem) seria incapaz de me levantar da cama todas as manhãs e voltar para uma sala de aulas. Mas muito admiro os corajosos que o fazem diariamente. Que se calhar são só malucos. Vamos não esquecer essa que é também uma hipótese perfeitamente a ter em conta, mas que não invalida a minha admiração.
19 comentários:
realmente é preciso ter uma certa dose de loucura para aturar os filhos dos outros sem lhes poder fazer nada (senão são logo acusados disto e daquilo, que não se pode castigar os meninos) e ainda pra mais estar uma vida inteira na escola. god, eu detestaria.
Olha a teacher Butta de lagrimita no canto do olho...
;)
Oh, a Belota gosta muito da teacher Butta, tanto que até entrou lá na escola hoje! Lol
Mais assustador é estar no fim da "carreira" estudantil e ter um medo horrível do "mundo real"... tal como foi dito, a minha vida tudinha (e foi mesmo quase toda porque aqui a menina começou a ir para a pré aos 4 anos) foi sentadinha numa mesa a aprender e a ouvir os outros dizerem o que eu tinha que fazer.
agora tenho que ir para o grande e assustador mundo do trabalho! onde não sei andar, onde a "punição" por não fazer um bom trabalho não é apenas ter uma má nota, mas sim poder prejudicar realmente a vida (aka negócio) de alguém... enfim, um mundo novinho e completamente desconhecido para mim!
e nessa perspectiva, quem me dera querer ser professora (coisa que ainda não está completamente posta de lado, para uma carreira futura), pelo menos é um mundo conhecido, ao ser aluna durante tanto tempo tive oportunidade de aprender como deve ser um professor e isso já não tornava o "mundo do trabalho" tão bicho-papão.
e em relação às visitas às escolinhas, eu adoro ter uma desculpa para ir até às minhas antigas escolas... lembra-me de todos os bons momentos que por lá passei (os menos bons ficam bem fechados nas gavetas) :P
ps: desculpa a invasão ao blog, mas já algum tempo que acompanho e gosto bastante, parabéns!
E a Butta também gosta muito da amiga Belota.
Até podia ter feito aquele-curso-que-a-gente-sabe sem ti, mas olha que não era a mesma coisa...
[só falta aqui o nosso m'nino do t'fone a comentar também, para estar o trio composto, eheh]
;)
Eu adorava a escola! Só mudei de opinião no 10º ano, a bem ver, quando vi que não me davam boas notas porque não queria ir para medicina --"
E não sei se não voltarei à dita escola daqui a uns anos :P
Diana o mundo do trabalho é igualzinho à escola. A sério! Vais sentir-te bem e tudo correrá pelo melhor. Com a vantagem que ao contrário da escola levarás para casa um cheque ao fim do mês. Mas só em princípio, que isto hoje em dia já não se sabe muito bem. De qualquer modo o resto é igual! O chefe é o professor, há os colegas espertalhões e os colegas mais acanhaditos, as fofoquices, por vezes trabalho de casa até. Vai tudo dar ao mesmo, com a vantagem que ninguém te obriga a ficares lá. Se não gostas podes sempre procurar um trabalho novo! :D
W...desde os colégios particulares católicos com direito a saias de pregas, meias até ao joelho e avé-marias todas as manhãs."
Colégio do Ramalhão?
Belota, este teu último comentário foi muito bom de ler para quem está quase quase a entrar nesse novo mundo e também está com algum receio, como é o meu caso.
Thanks =)!
Bjos
Ri como uma tarada, não acreditando numa palavra da suposta insursão pelas veredas da memória.
Eu, muito mais velha, vivi este sistema imaginário aqui contado. E fui muito feliz. E era aluna de quadro de honra, que saía trimestralmente nos jornais. E ser aluno de Quadro de Honra no meu Liceu era coisa especial, que era considerado o melhor do país. A prová-lo o facto de na próxima quinta-feira ter o jantar trimestral do Liceu. Criámos laços para a vida toda.
Sistema imaginário? Qual imaginário? lol Sim, criei laços para a vida, aliás foi coisa que referi no texto. E também organizamos ainda jantares e somos todos amigos (ou melhorl, amigas), mas continuo a achar que não precisava de lá ter passado tanto tempo. Quadro de honra também tínhamos. Deixei de lá estar quando a nota de comportamento passou a dizer "satisfaz" em vez de "muito bom". E não sei o que tem o texto de tão extraordinário para não ser credível. Não é peciso ser-se muito mais velho, Teresa, para se ter andado num colégio assim. Eu tenho 29 e foi essa a minha experiência.
Não Ruca, não foi Ramalhão, mas conheço muita gente daí. Não era assim tão longe...!
Muito sinceramente... acho que não é só no ensino básico e secundário que se aprende coisas completamente desnecessárias. maioria das cadeiras de faculdade só servem para encher a cabeça... Enfim.
Por acaso tenho uma saudade enorme do secundário... parecendo que não era muito mais livre a nível de horários, e não haviam tantas pressões...
Acho que o nosso sistema está muito mal preparado. andamos anos a remoer coisas completamente inúteis e quando seguimos a educação superior apanhamos com um método completamente diferente e cada um que se amanhe como pode. ;P
A minha mãe diz que não queria ir para a escola porque ainda não sabia ler :P
Eu ainda tenho de me levantar todos os dias para ir para a escola e até o faço com gosto(mas só porque é a mamã a acordar-me e não o maldito despertador XD)
Mas, sinceramente, preferia estar a fazer outras coisas muito mais interessantes e que, de certeza, contribuiriam para a minha felicidade e educação mais do que a escola.
E muitas vezes aquilo que "aprendemos" não interessa mesmo para nada. Pior é quando, para além de não interessar para nada, as coisas são dadas por profs incompetentes, que nos dizem que há gelados, mas que não nos os deixam provar(ou seja, falam-nos nas coisas, mas não nos explicam porque é que as coisas são assim, o que é extrememente irritante, quando tentamos gostar e perceber de alguma coisa)
Beijinhos
Quando andava na escola até nem me queixava muito, mas quando saí dela é que percebi a seca que aquilo tinha sido!
Não há nada como a vida universitária!
Diana, sem medos. é como já foi dito, é como a escola. As pessoas não ficam adultas ou diferentes apenas por trabalharem. Relax.
Até à 4ª classe foi tudo perfeito, andava contente da vida. depois passou-me estaleca de aprender ( pelo menos pela metodologia normal ). Mas eu só tive a sensação que estava a perder tempo com a minhas aulas de matemática a partir do 9º ano, que até hoje ninguém me conseguiu convencer que até dava jeito. A prova é que trabalho há 10 anos e não a usei para nada.
Lembro-me que tinhas dito há uns meses que tinhas andado num colégio católico. (Mas isso não te fez católica, pois não?)
A escola? Ainda tou por lá. E a mim corre-me de feição. (Não fosse eu um nerd maluco.) ;)
Eu tive a sorte de estudar, porque na época as posses não eram muitas e os meus pais tudo fizeram para que todos estudassem.
Era uma aluna mais dada a "furar regras e fazer patifarias a alguns professores, sempre como chefe de turma" do que propriamente estudar mas passei e tirei o Curso Comercial e o Institudo. Hoje equivale ao 12º ano, julgo eu.Só chumbei no último ano a Literatura, num exame de 10 páginas, tudo certo mas apenas e tão só porque num poema de Camões troquei o maldito nome da Leonor por Luisa. Podes imaginar como era o regime? Pois é...e andei 1 ano com essa disciplina, passei e aos 17 entrei no mercado do trabalho.
Saudades? Nenhumas, porque da 1ª classe à 4ª, por cada erro de um ditado levavas 10 reguadas, se respondias mal ao ou à prof tinhas que escrever 100 vezes (uma vez escrevi 500) "eu não volto a ser malcriada", a tabuada numa lenga-lenga em que quase sempre sabia a música mas a letra APREEEE!!!!
as meninas separadas dos rapazes, todos de bata branca do maldito tyrilene (cá era bom porque era frio, mas lá era um assador horrivel) e tudo tinha que ser decorado ao mais pequeno pormenor. Só seguia em frente (cursos superiores) quem de facto era bom e gostava.
Não, acho que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Hoje cada vez mais é preciso ir mais além nos estudos - não nas novas oportunidades Sócrates que com 9º ano, em três meses ficas com o 12ºano - mas vencer um ano de cada vez, degrau a degrau e de preferência tirar sempre um curso superior.
Para quê se não há trabalho?
A crise vai passar em breve e pobres daqueles que se deixaram abater e não estudaram apesar de tantos sacrificios e avisos dos pais! Apostar na formação é o melhor que há e há quem concilie o trabalho com os estudos, muito mais dificil mas não impossível!
Hoje como ontem há professores bons e maus e só deveria ser professor quem de facto "ame a carreira" e nunca cmo uma alternativa a um trabalho.
Os pais de hoje delegam nos pobres coitados a EDUCAÇÂO que deveriam dar em casa e com isso fazem que a criancinha seja malcriada até dizer chega e...o resto todos sabemos!!!!
Eu passei alguns momentos dificeis... Os miúdos conseguiam ser muito maus. Mas olha, foi por ter ouvido tantas vezes "não" que aprendi a lutar por aquilo que quero...
Saudades não tenho, mas também não olho para trás com rancor :)
Beijo*
Bom post!
Enviar um comentário